sexta-feira, 12 de junho de 2009

INTERVALOS

Às vezes ansiamos tanto para chegar a alguns lugares e quando lá chegamos uma série de dúvidas começam a pairar sobre nossas cabeças.
Num momento você se sente o homem mais poderoso do mundo, mas num estalar de dedos a sorte muda e uma brincadeira do destino parece deixar um gosto amargo em sua boca...
Pois é, às vezes até mesmo os herois se sentem perdidos e têm seu momento de reticência.
A luz pálida da cidade parece o melhor lugar prá se esconder. A luz pálida e as noites frias são capazes de inibir até o mais corajoso dos seres. Uma covardia necessária, matéria-prima para uma reinvenção poderosa. A famosa fase da introspecção.
Após meses de loucura chega um período para desacelerar, como se o mundo desse uma trégua e os crimes parassem de acontecer.
As guerras que enfrentamos são as internas. Ah, mas há também a guerra da conta negativa no banco, as contas de água, luz, tefefone, de alguns luxos e lixos, há guerra contra o cartão de crédito e suas taxas abusivas, quase criminosas... Sim, os herois também pagam contas e muito altas algumas vezes.
É inevitável não voltar no tempo e querer fugir de tudo. Banco imobiliário, jogo da vida, amarelinha, futebol de pés descalços e na chuva torrencial, bolinha de gude no chão de terra batida todo esburacado.
Correria no chuta-e-esconde, mula, vôlei por cima do portão ou com uma corda... Aquelas eram finais de campeonatos mundiais... Os amistosos contra os garotos da rua de baixo eram como os duelos de vida ou morte na idade média. Vencemos muitos jogos, perdemos alguns e o tempo fechou. Era como URSS x USA. Bolas perdidas nas lanças...
Os certos, os errados... Lembranças de dias ensolarados, de dias chuvosos, de temporais, dias frios que nem mesmo cinco blusas esquentavam.
As imitações mal feitas, as bem feitas, as não feitas...
Os beijos roubados e aquela menina que você tanto queria, mas que no bailinho te trocou por seu amigo. Ódio? Vontade de matá-lo? Que nada, apesar da decepção no dia seguinte a vitória sobre ele no jogo de futebol resolvia tudo. Mas e se fosse uma derrota? Ah, haveria sempre uma revanche e ninguém perde prá sempre, nem mesmo o Ibis.*1
Amores secretos, desejos secretos, rancores secretos, planos arquitetados que nunca se realizaram...
Em 1990 todos queríamos ser Klinsmans e Mathäus e Voellers, Hässlers, Brehmes, Litbarskis ou Illgner. Este fui por anos e fiquei anos e anos sem tomar gols, dentro de nossas regras claro, com defesas incríveis. Até hoje há ainda quem me chame de Illgner, hahaha.
Notas altas na escola, responsabilidades, fama, respeito e dificuldades, muitas dificuldades. Muitas privações, principalmente dos pais, que abriam mão de tudo pelos filhos.
É, voltar no tempo mostra como deve ser mesmo um heroi. Deve ser como pai e mãe.
Revisitar o passado, às vezes é aprender para o futuro...





*1 - Ibis é a equipe considerada o pior time do mundo, no futebol, equipe brasileira.