domingo, 2 de outubro de 2016

A Queda dos Trabalhadores

Enquanto as luzes estavam acesas eu resistia, apesar de assistir a uma celebração implícita, por uma vitória que começou a ser planejada três anos atrás, depois das incursões desastrosas de um grupo organizado de São Paulo.
Ao apagar das luzes, foi impossível não verter algumas lágrimas, sofridas, de alguém que sofreu uma derrota inimaginável. A ascensão dos trabalhadores ao poder chega ao fim e volta a se configurar a clássica e trágica política dos senhores de engenho, em pleno século XXI. E eu que achei já ter visto de tudo.
É muito triste perceber que a população mais pobre de São Paulo segue sendo presa fácil dos meios de comunicação. Sou obrigado a invocar e aplaudir às mais rudimentares formas das teorias da comunicação do século XX. Sou obrigado a admitir que informação é poder, mais, manipular a informação é prática corrente. Sou obrigado a aceitar que a imprensa é o quarto poder e teceu a história com a paciência de quem prepara um grande golpe no xadrez. A imprensa venceu.
Quando as luzes se apagaram, pude ver a satisfação nos rostos de quem arquitetou um golpe na população e a fez cair direitinho na armadilha. A TV ainda manda nas pessoas, ainda é capaz de submeter o ser humano a um transe coletivo capaz de emburrecer e de incentivar mantras autodestrutivos.
Quando decidi estudar jornalismo, eu ainda tinha a visão inocente desses tantos que hoje comemoram a própria sentença de morte. Poucos meses me fizeram temer, alguns anos me fizeram acender o sinal de alerta e a vivência da profissão me fez concluir que tudo é muito sujo nesse nosso mundo.
A imprensa política e econômica é incapaz de levar em conta o sofrimento da população, exceto se desejar atribuí-lo a seus inimigos, aqueles que querem evitar a concentração de renda em um país já tão desigual.
Os anos de 2015 e 2016 foram aqueles que me fizeram ter vergonha por fazer parte de uma categoria desunida, corrupta, capaz de vender a alma por dinheiro, status, ilusões. Nem mesmo o jornalista da grande imprensa se dá conta de que hoje está por cima, mas amanhã há de cair em desgraça.
Voltamos anos na história e mostramos que a humanidade ainda é a mesma da Idade Média, a mesma da escravidão, a mesma da Revolução Industrial, a mesma da Segunda Guerra. Uns punhados detêm o poder, a multidão se ajoelha e segue as regras impostas.
A única coisa que difere o homem atual do homem dessas outras épocas históricas é que agora ele se sente feliz ao ser manipulado, ele se sente senhor do mundo. Em comum, além da subserviência estão o ódio, o autoritarismo, a intolerância e a incapacidade de solucionar as mais singelas equações humanas.
Os avanços deram lugar ao passado, que volta com uma roupa nova, mas que veste os mesmos canalhas de outras gerações, substituídos por filhos, netos, bisnetos. Mandam os mesmos, obedecem os de sempre e os que notam essa conjunção do mal acabam sofrendo as dores daqueles que sorriem levando chibatadas.
É o fim de uma era feliz e o início de tempos trevosos, que podem se extender, mas vão acabar e voltar e acabar e voltar... E assim o capital se perpetua e a conclusão é a mais triste possível. Alguns mandarão sempre, o povo sempre será mandado e isso não mudará nem em cem, nem em mil anos. A história da humanidade é uma sucessão de erros, que se repetem sempre, década após década, século após século e mostra que o homem é o único animal irracional sobre a Terra.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Avanço e Retrocesso: Na Contramão da História, Brasil volta ao menos dez casas no tabuleiro

O dia 13 de março marca um dia importante na história do Brasil. Milhões de pessoas saíram às ruas para se manifestar contra o Governo Federal.
Organizar as ideias em um texto só é difícil, mas é possível fazer algumas considerações.
Penso ser saudável o combate à corrupção, mas creio que as pessoas que foram às ruas estão se iludindo. Existe uma campanha anti-PT, plantada na sociedade pela oposição. Há fatos que depõem contra muitos membros importantes do partido, sem dúvida, mas há muitos indícios transformados em 'provas' por uma população que crê piamente que a saída do partido do poder levará consigo todos os males que assolam o país. Em meu entendimento, um dos grandes perigos mora aí.
Hoje, na avenida Paulista, uma massa majoritariamente de classe média, eu disse MAJORITARIAMENTE, que fique claro, colocou para fora seus anseios.
Havia muita gente de bem, mas havia, em igual proporção, oportunistas da classe média alta que não aceitam perder o que consideram privilégios para que os 'pobretões' avancem na vida. Essa gente tinha muitos representantes, há vídeos e fotos aos rodos para comprovar isso.
Essa parcela raivosa da classe média eu conheço, convivi com ela quase dez anos e dela, mais de uma vez, ouvi frases como 'até parece que vou deixar minha empregada estudar. Empregada boa é difícil de arrumar, depois ela estuda e me abandona'.
O pior é que gente assim contaminou gente da periferia, que repete um mantra estúpido como se estivesse dissertando uma tese organizada em Oxford.
O pobre, que se levanta contra o governo, não nota que foi abandonado geração após geração pelos mesmos oposicionistas que querem o poder pelo poder. Entretanto, essa oposição provou hoje um veneno perigoso, que já vimos no passado. A oposição que adubou e plantou com tanto cuidado no terreno que deseja assumir já não é uma unanimidade. É óbvio que a população não dá a eles, ainda, a atenção que merecem, mas eles podem ter plantado uma semente maléfica, que há de vitimá-los de forma fatal mais tarde.
Por mais que se ache 'esperta' e 'ciente' da política, a população não o é e pode estar cavando a própria sepultura. Muitos dos presentes às manifestações o fizeram com conhecimento de causa, pois sabem que serão beneficiados se houver uma mudança no jogo político. A maioria do país, no entanto, que não se iluda.
O que se viu, em grande medida, foi um show de intolerância, que se vestiu de discurso de ódio e hoje afasta até pessoas que viveram grandes amizades. O PSDB, o DEM e seus aliados não mediram as consequências de seus atos e jogaram brasileiros contra brasileiros com o falso discurso de que o PT é o mal sem o qual o Brasil voltaria a ser o Brasil. Que Brasil? O das grandes desigualdades? Das corrupções engavetadas e jamais investigadas? O Brasil em que as empregadas ficavam em seus 'devidos lugares'? Desculpem-me pela ignorância, mas é a esse Brasil que se quer voltar? Dos coronéis, dos cabrestos, do trabalho escravo sem combate, do massacre das minorias, de uma polícia corrupta que deitava e rolava sem que ninguém nada pudesse fazer? Esse era o Brasil cerca de uma década atrás.
Houve avanços sob o governo tucano? Claro que houve, mas o partido se mostrou péssimo na gestão do país, sobretudo aos mais pobres. Os números mostram isso, não sou eu. O estado de São Paulo experimentou anos de avanço sob a batuta do Governo Federal. Sem ele, o governador mostrou ser incapaz de gerir as contas, os impostos e investir com capacidade. Vejam, quando digo isso, estou me referindo a investimentos nas camadas mais pobres da população.
O PT roubou? Que haja provas concretas e que os responsáveis sejam punidos. Mas que sejam punidos os corruptos do PMDB, do DEM, do PSDB. Não se pode destruir uma legenda e deixar outras igualmente corruptas intactas.
Por mais que o mantra das ruas diga que não, há sim, e muitas pessoas decentes no PT. Assim como há no PSDB, no DEM, no PMDB, no PXDRETYBJK, etc...
Nossa justiça atropela a Constituição, que eu julgava ser inviolável. Não é.
O texto só é respeitado quando conveniente. Os premiados projetos de transferência de renda são esculachados por quem vive no conforto das grandes cidades e ignora os avanços que levaram às áreas mais carentes do país. Dizer que o bolsa-família criou vagabundos é fechar os olhos à realidade e desconhecer estatísticas que provam o contrário e foram amplamente divulgadas.
A má vontade do brasileiro me espanta. É um povo violento, grosseiro e mimado, que não aceita ser contrariado que já parte para a ignorância quando os argumentos são insuficientes.
Não houve, desde 2014, sossego para que o governo tentasse implementar suas ideias. Será que os futuros administradores do país fariam algo em condições semelhantes? Pago para ver!
A corrupção sempre existiu e jamais deixará de existir. É assim em todo o mundo, desde o princípio dos tempos. Entretanto, com a saída do PT do governo, as instituições voltarão a ser travadas, a PF voltará a fazer um papel medíocre, como fez num passado não muito distante. Aliás, o juiz da PF que comanda a Lava Jato não vem fazendo nada mais do que a sua obrigação. Ele não é herói, ele não é um astro, ele é simplesmente alguém pago pela população que tem a obrigação de render. Alçá-lo à esfera de estrela é simplesmente patético.
Vejamos como os dias se seguem, mas o cheiro de tempos difíceis se sente de longe. O futuro confirmará ou desmentirá essa sensação.