quarta-feira, 9 de setembro de 2020

ILUSÃO

No fundo do poço  surge um feixe de luz
Uma mão se estende firme, convidativa
O momento crítico não permite nenhum critério
É confiar ou morrer no centro da Terra, um tétrico cemitério
Um sorriso, uma palavra, um acalanto
Um colo quente, um cafuné desconcertante
Frases doces que seduzem e encantam
Abraço forte que completa uma ilusão
A xícara de café vazia faz valer a pena o dia
A cama molhada de suor exala o odor do amor
Fluidos corporais se espalham pelo quarto perfumado
E garantem sonhos doces e um futuro planejado
Mas o tempo muda o sorte, tira a vida e devolve a morte
Sóis e luas açoitam a traem a esperança
A luz que guiava os passos cessa e caminhar na escuridão é uma armadilha
Os passos equivocados conduzem a uma tragédia anunciada
O abismo à frente, um caminhar sôfrego e a queda é inevitável
Longa, cruel, fria e devastadora
Do pó ao pó, a terra batida do fundo do poço é implacável
Os ossos dóem, o medo dói, o orgulho dói
De volta ao fundo da Terra, onde o silêncio contraria a ciência
Dessa vez não há luz, não há mão
Dessa vez não existe mais nenhuma salvação
É o fim, simples, duro e direto
É o fim, sombrio, traiçoeiro e abjeto
É o fim
Sair do poço não passou de uma doce ilusão


terça-feira, 8 de setembro de 2020

TEMPO

O tempo costuma ser tão implacável quanto um caminhão desgovernado descendo a ladeira. 
A tristeza vira felicidade que vira tristeza num piscar de olhos. Afeto e rejeição caminham sempre sobre uma lâmina afiada, pronta para cortar a carne.
Eu nunca achei que as coisas fossem eternas, mas não escondo, gostaria muito que algumas delas durassem mais.
A velocidade do tempo nos impede de saborear as vitórias. Vencer é um verbo efêmero para a maioria dos mortais. Perder é o verbo do dia a dia. Perdemos vida, tempo, dinheiro, paciência e, muitas vezes até a fé. Não a fé em Deus, mas a fé nos homens.
Aquele sorriso desconcertante vira desprezo tão depressa que às vezes é impossível entender em que dobra do tempo tudo mudou.
Mudar, verbo conjugado com perfeição pelos humanos. Muda o tempo, muda o vento, muda o humor, muda o amor. Mudar nem sempre é bom, muitas vezes dói, mas mudar, normalmente, não é uma opção, é a única situação possível. 
Diante disso, o verbo passa a ser resignar. Resignar-se, render-se ao inevitável. Cair em pranto, chorar, questionar, aceitar, levantar e caminhar. E, depois dessa tempestade emocional, um novo ciclo chega e é preciso estar pronto para viver tudo outra vez. Outras vezes. Muitas vezes. De tempos em TEMPO...