sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sabe, Léo

Este texto foi postado em meu perfil no Facebook em homenagem ao meu primo Leonardo. Cresceu ao nosso lado, teve momentos maravilhosos e outros terríveis conosco. Um dia essa história terminou e deixou um vazio persistente em nossos corações.
É muito difícil lidar com as perdas. Mais ainda quando quem parte é muito jovem e poderia ter vivido tantos momentos especiais.
A vida é um mistério que jamais poderemos desvendar. Mas é, também, uma bênção que podemos festejar.
Apesar da dor e da saudade, Léo, saiba que esse texto é um tributo aos 20 anos que pude ter ao seu lado. Você era um cara lindo, com defeitos e virtudes como cada um de nós. O amor por você será infinito. As décadas que eu espero viver jamais tirarão de mim as lembranças de seus dias, de seus sorrisos, de sua expressão, de sua voz, de seu amor.

Reproduzo aqui.

Amar...
Sabe, Léo... Estava aqui pensando em todas aquelas definições que as pessoas tentam formular sobre amar. Talvez não seja tão difícil definir, como muitas pessoas supõem...
Amar é tomar conta de um moleque de seis anos e ter que dormir com a luz do quarto acesa para evitar que um leão entre pelo buraco da fechadura e te devore. Amar é perceber que o menino dormiu, colocar o cobertor sobre ele e finalmente apagar a luz...  Amar é acordar no meio da noite perceber que essa criança sumiu. Amar é ficar preocupado e procurar esse molequinho pela casa toda e, depois de ficar apavorado, notar o pedaço de um travesseiro surgindo debaixo da cama. Amar é, então, perceber que o medo do leão assassino era tanto, que o pequeno Léo preferiu dormir escondido no lugar mais improvável.
Amar era assistir um milhão de vezes ao Estranho Mundo de Jack, ouvir você reproduzir todas as falas e músicas e, ainda, fazer a sua mãe passar pela mesma situação. O que preocupa Jack? O que preocupa Jack?
Amar era sentar-me na sala com você e me acabar jogando videogame: vôlei, futebol ou um game de lutinha mesmo, como a gente fazia muito. Lembra, Léo?
Amar era ficar gritando “bambiiiiiiiiiii” na janela da sua cozinha todas as vezes em que o São Paulo tomava um gol. Amar é lembrar que você começou santista, virou bambi e acabou corintiano...
Amar era ficar numa resenha quase interminável sobre futebol com você:
-Kléber, me leva num jogo do São Paulo no Morumbi?
-Não, Léo.
-Kléber, me leva num jogo do São Paulo no Morumbi?
-Não, Léo.
-Kléber, me leva num jogo do São Paulo no Morumbi?
-Não, Léo.
-Eu nunca fui num estádio, Kléber. Me leva!
-Só levo se for num jogo do Corinthians.
-Ah, tá bom, vai...
Amar é, mesmo com o tornozelo operado, ir com você e com algumas pessoas especiais a um jogo da Copa do Brasil no Morumbi. Corinthians 4x0 Goiás... O estádio estava lotado, você consegue se lembrar, né? E que noite gelada, lembra? Ah, mas a apresentação de luxo do Herrera esquentou aquela noite de inverno. No terceiro gol te vi chorando de emoção. Será que alguma coisa havia mudado dentro de você? Ah, mudou! Na mesma semana sua mãe te comprou um agasalho do Timão.
Amar era assistir a vários jogos com você... Vou começar uma musiquinha, vê se você reconhece: - “ÔÔÔ, o Coringão voltou”... Sim, nós dois estávamos lá e foi lindo, foi um momento nosso. Voltamos rindo muito no metrô. Como poderia me esquecer? Ainda guardo aquela bandeirinha em algum lugar...
Ahhhhhhhhhhhhhhh, Léo! Consegue se lembrar de quando você era um menininho hipocondríaco que sempre estava doente, mesmo sem estar? Não? Eu me lembro bem... Como não amar aquele menininho que não saía daqui, sempre tão carinhoso...
Amar era ver você passar na frente do portão enquanto eu estava lavando a louça e ver aquele sorrisão seguido de um: “E ae Klébeeeeeeer”...
Amar era saber que você estava fazendo umas coisas não muito legais e, ainda assim, trancar você no meu quarto e falar, falar, falar...
Amar era continuar te amando mesmo depois de ter a certeza de que nada do que havia sido dito tinha servido para te ajudar.
Amar era ver você fazer uma besteira atrás da outra e, ainda assim, ter a certeza de que na próxima chance você mudaria, você voltaria para os nossos braços.
Amar era torcer para a clínica mudar você, e ela mudou, e durante algum tempo você voltou a ser o nosso Léo, de sorriso largo, abraço caloroso e coração dourado.
 Amar era ver o seu amor distribuído entre nós. Seu amor era de todos e para todos.
Amar foi sentar-me com vocês poucos dias atrás e compartilhar sonhos, histórias (inclusive a do leão assassino), boa comida, boa bebida e os últimos momentos ao seu lado. Foi nossa despedida.
Amar foi estar com você em tantos momentos e, na maioria das vezes, amar era não estar contigo, mas saber que estava conosco, mesmo que nem ao menos tivéssemos ideia dos locais por onde você andava.
Amar foi passar a última madrugada ao seu lado, ver o estrago que as drogas fizeram em sua vida, em nossas vidas e, ainda assim, não sentir raiva de você e só perceber que te amava ainda mais do que poderia imaginar.
Amar foi aceitar fazer o que existe de pior nessa vida, enterrar alguém especial, só pra ficar mais um pouquinho ao seu lado, mesmo com uma dor que nunca havia sentido antes.
Amar... Foi tudo o que pude fazer por você nessa vida. Não foi suficiente pra te deixar por aqui mais um tempinho. Amar foi receber tudo o que você pôde fazer por mim...
Amar... É isso que farei eternamente. Amar você, mesmo num plano diferente. Amar você, mesmo na ausência latejante. Amar você e torcer muito para ter a chance de te abraçar de novo e te dar muitas, muitas broncas.
Foram tantas histórias, foi tanto amor, foram 20 anos...

Vá em paz, meu Léo, a mim só resta te amar...  

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