quarta-feira, 19 de novembro de 2008

ENSOLAÇÃO.

A privação de sentidos me move na direção do abismo das idéias...
Precipito as palavras que me oprimem e com elas jogo num buraco sem fundo tudo o que me angustia.
Caminho no sentido contrário, mas uma letargia sinistra me toma e a privação de sentidos se torna quase irreversível. Num esforço imenso rastejo, mas na direção errada e caio no precipício das palavras maledicentes que eu mesmo proferi contra mim e contra todos.
Na queda, sinto todas as maldades plantadas batendo em meu rosto, são árvores imensas, enraizadas e repletas de frutos maus, dores, pragas e azares diversos.
Uma queda interminável e medos e angústias me esbofeteiam.
O rosto quente, posso jurar que ouço balbucios conhecidos, mas o calor intenso me consome... Dores, dores e a sensação de queimação imensa me consumindo o corpo.
Não é o inferno, felizmente. Ao menos não se parece com ele.
E a queda interminável. Onde vou parar? Vou parar? O corpo amortecido, como se uma anestesia geral me paralisasse, mas não o cérebro, que funciona lentamente.
Vultos, sons semelhantes ao de uma praia.
- Vai morrer?
- Não dessa vez, é apenas um mal estar passageiro.
- O que houve com ele?
As vozes dialogam à minha volta e já não são mais balbuciadas. Ouço em alto e bom som.
Sinto um frio intenso me envolver calmamente... Começa na cabeça e arrepia a alma. Rosto, tórax, barriga, braços, pernas... O calor some momentaneamente e pareço ter entrado numa chuva de confusão... As vozes mais intensas me assustam e o frio me sacode o corpo, já não mais tão letárgico.
- Está voltando, mas vai precisar de um creme para queimaduras, vejam como está vermelho.
Enfim meus olhos obedecem meus comandos e se abrem...
Estou na praia, o sol a pino e na areia escaldante desmaiei.
Inconsciente, ouvia as pessoas tentando me socorrerem, os balbucios eram de socorro, a sensação infernal de queimação era na verdade do sol intenso de um dia de verão tropical. Depois de socorrido fui banhado com água fresca, que me devolveu os sentidos e pude ver o quão ruim podem ser os efeitos da ensolação.
Não por medo do ardor, mas por pavor do abismo de palavras ruins decido que jamais ficarei exposto ao sol sem os devidos cuidados... Sombra, muito água e protetor solar.
A ensolação me ensinou a tomar alguns cuidados com a saúde, mas principalmente me fez refletir sobre o perigo das palavras lançadas no abismo, afinal um desequilíbrio pode nos jogar dentro desse imenso buraco.

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